segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

EM DIREÇÃO À SOCIEDADE DO SER

Trechos do discurso do Senador Marco Maciel, ex-vice-presidente da República, ao Senado Federal Brasileiro em 24 de agosto de 2007, logo após a inauguração do Pólo Empresarial Ginetta, no Nordeste do Brasil.

Senhoras e Senhores Senadores,
Hoje estou aqui para falar sobre o Movimento dos Focolares, nascido na Itália durante a Segunda Guerra Mundial de um grupo de moças ao redor de Chiara Lubich. E chegou ao Brasil, em Recife, em 1959.
Então, no início da década de 60, encontrei um estudante universitário desse Movimento, que hoje está presente em 183 países, com mais de 4 milhões de aderentes, dos quais 250.000 no Brasil. Dentre as suas atividades, existe a edificação das Mariápolis, pequenas cidades nas quais os habitantes procuram viver segundo o espírito cristão, nas quais os jovens podem passar as férias ou participar de atividades de voluntariado (...). No Brasil existem três mariápolis permanentes: em São Paulo, no Pernambuco e no Pará.
 
Ao lado delas, nascem os Pólos Empresariais para empresas de pequeno ou médio porte, animadas pelo espírito da Economia de Comunhão (EdC), que tem por objetivo gerar uma cultura da solidariedade, fazer crescer a empresa e ajudar os necessitados. A Economia de Comunhão destina os lucros aos empresários, aos operários
e aos pobres internos e externos à Mariápolis, prevê um tratamento igualitário para os trabalhadores da empresa, um relacionamento correto com a concorrência e um maior respeito pelo meio ambiente.
(...) O primeiro Pólo Empresarial nasceu em São Paulo, seguido de outros na Argentina e na Itália. Agora, na primeira Mariápolis das Américas houve a inauguração, em Igarassu, do seu Pólo Ginetta, em homenagem a Ginetta Calliari, a pioneira italiana que trouxe o Movimento dos Focolares ao Brasil.

(...) Sr. Presidente, o Estado de Pernambuco está feliz por ter sido o primeiro na América a acolher o Movimento dos Focolares e de ter em Igarassu uma Mariápolis e, agora, um Pólo da Economia de Comunhão. (...)
Tudo isso num clima de fraternidade capaz de distribuir renda e superar a luta de classe, e com uma repercussão internacional, demonstrada pelos prêmios conferidos a Chiara Lubich na Europa e nos Estados Unidos, como o recente prêmio UNESCO.
(...) Concluo, Sr. Presidente, exprimindo a minha convicção, mais do que isso, a minha certeza de que experiências como a Economia de Comunhão sejam uma das estradas pelas quais poderemos passar da sociedade do ter à sociedade do ser. Isto é, ser mais do que ter.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ELE NOS ACOMPANHOU ATÉ O FIM DA VIAGEM

Trecho extraído do livro “Ginetta. Uma vida pelo Ideal da Unidade”.

Antes, eu nunca me tinha preocupado com o mar. Quando Chiara me disse que eu levaria a espiritualidade a outro continente e que viria para o Brasil, me dei conta de que, para chegar até o Brasil teria de tomar o navio ou o avião. Tinha um medo terrível de água por causa de uma experiência que fiz quando era menina: fomos passear nas montanhas, e ali havia um lago. Os meninos entraram num barco, e eu entrei com eles. Mas esses meninos eram tão inconseqüentes que, a um dado momento, se jogavam todos de um lado. Eu tinha a impressão de que ia entrar água no barco. Morria de medo, o tempo todo. Quando saí daquele barco percebi que ainda estava viva, disse a mim mesma: Nunca mais entrarei num barco.
E atravessei o mar para chegar até o Brasil! Deus aproveita de tudo para se apresentar, e Ele se apresenta também como dificuldade. Para mim, a água era uma dificuldade; eu tinha um medo terrível da água.
Na Itália, sempre viajávamos por terra. E, com Chiara, queríamos sempre deixar a marca de Jesus e de Maria em todos os lugares, queríamos cobrir a Itália de ave-marias. E entrei num acordo com Nossa Senhora para deixara marca dela no mar, queria deixar a marca de Jesus e de Maria na água, porque acho que ninguém se lembra, ninguém faz isso.
(...)
Partimos do porto de Gênova. Assim que entramos no navio, começou a tempestade, e essa nos acompanhou por doze dias, até o Recife. Os tripulantes diziam que era a primeira vez que eles viajavam com um mar tão agitado! Fiore e Marisa sempre ficavam deitadas; estavam passando mal, sofriam de enjôo. Violetta e eu, felizmente, não sofríamos disso e pudemos nos colocar a serviço delas. Naturalmente, foi como nos encontrar diante do Crucifixo vivo. Ele veio nos visitar e nos acompanhou até o fim da viagem. (...) Mas posso dizer que não nos faltava nada, porque Ele estava ao nosso lado. (...)
Tínhamos também conosco Jesus Eucaristia, em uma capelinha. Portanto, saber que tínhamos até Jesus Eucaristia, que viajava conosco, era uma coisa que é preciso experimentar para entender a que ponto chega o amor de um Deus!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

NOVIDADE EDITORIAL


A Editora Cidade Nova lançará no início de março o livro Ginetta. Fatos que ainda não contei. Transcrevemos abaixo a apresentação do editor:

Paulo VI afirmava que “hoje o mundo ouve mais as testemunhas do que os mestres”. Ginetta Calliari (1918-2001) é uma dessas testemunhas que encantam e mostram o fascínio da coerência com os valores do Evangelho nas pequenas e grandes coisas da vida e quanto ser discípulo de Cristo faz ser pessoa realizada e construtora de um mundo fraterno.
Publicado aos dez anos do falecimento de Ginetta, este livro apresenta uma inédita autobiografia que ela escreveu na década de 1980.
Os fatos que ela narra, da infância, adolescência e juventude, revelam uma personalidade inquieta e questionadora, em busca de algo capaz de saciar sua sede de autenticidade e de felicidade. Esse algo ela encontra ao conhecer Chiara Lubich e suas companheiras e com elas participar da fundação do Movimento dos Focolares.
A obra permite adentrar na figura extraordinária de uma mulher dos nossos tempos, cuja vida e ação deixou marcas significativas na vida de muitas pessoas e na história do nosso País.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

UMA FÉ CARISMÁTICA

Extraído do livro “Ginetta. Uma VIDA pelo IDELA da UNIDADE”

Sua fé foi sempre considerada carismática, “escandalosa”, fazendo jus à Palavra de Vida que havia recebido de Chiara (ou seja, uma frase das Escrituras que serve de programa de vida): “Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,26). Para ela, nada era impossível tratando-se de uma vontade de Deus a ser realizada.
A vida de Ginetta está marcada por contínuos fatos nos quais a vivência das palavras do Evangelho se manifestou em efeitos, diríamos, extraordinários. Ela acreditava na veracidade do Evangelho, nas promessas de Jesus, e exortava todos a pedirem a Deus tudo de que precisavam, “com a fé de já ter obtido”. Diante de um pedido seu, da exposição de alguma necessidade imediata para levar adiante o progresso do Movimento, ninguém conseguia dizer não. Ginetta possuía a grande capacidade de envolver as pessoas no seu entusiasmo e na sua fé pela causa de Deus: os bolsos se esvaziavam, as jóias eram doadas, mão-de-obra era posta à disposição, transferências para outras cidades e mudanças de trabalho se efetuavam... E o resultado era sempre uma comunidade compacta, onde todos eram “um só coração e uma só alma” (cf. At 2,42).
Nos depoimentos sobre Ginetta percebe-se, ainda, que ela acreditava nas pessoas, ou seja, nas suas potencialidades, talvez escondidas, muitas vezes por elas mesmas ignoradas, mas sempre presentes no seu interior, e sabia fazê-las emergir e desenvolver-se.
Quando os tempos urgiam testemunhos concretos de fraternidade, seja no âmbito social, seja no eclesial, Ginetta envolveu muitos membros do Movimento na redação de três livros, coletâneas de fatos e experiências de Evangelho vivido, único caminho, segundo ela, para gerar “homens novos”, aptos a construírem uma sociedade justa e fraterna.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A “LEGIÃO BRANCA”

Trecho extraído do livro “Ginetta. Uma vida pelo ideal da unidade”

Era o dia de Nossa Senhora das Neves, e Chiara nos disse:
- Precisamos cobrir o mundo de branco, de neve, devemos “imaculatizar” o mundo, perfumar o mundo.
Lembro-me de que nascia em uma ou outra jovem o desejo de seguir Jesus, assim como Chiara o havia seguido. Então, cada uma conversava pessoalmente com ela.
Um dia, ela escreveu uma carta convidando aquelas jovens que queriam dar tudo a Deus da mesma forma que ela para uma reunião. Éramos quarenta, mas nem todas puderam ir. Chiara chamou-nos “a legião branca”.
Lembro-me de que, numa tarde de chuva, trovões, escuridão e bombardeios, uma tarde realmente desoladora, reunimo-nos numa sala. Quando comunicamos ao frade capuchinho que nos dirigia espiritualmente o nosso desejo de viver por Jesus Abandonado presente nos irmãos, ele disse:
- Temos de fazer uma promessa solene.
Ele veio com um grande crucifixo e, passando, colocava-o nos nossos braços. Chiara foi a primeira. Aquele crucifixo era símbolo de que estava pronta a levá-lo nos braços, amá-lo, carregá-lo até o fim da vida. Entre nós havia também uma adolescente; quando chegou a vez dela, ele parou um pouquinho, com receio e lhe disse:
- Será que você quer isso mesmo? Você o quer por toda a vida?
- Sim, eu quero!
- Será que você não vai deixá-lo cair no chão?
Ela ficou vermelha, mas respondeu:
- Não, não quero deixá-lo cair no chão!
Eu fiquei impressionada, nunca se apagou da minha mente aquele momento. Chegou também a minha vez e, em unidade, fizemos o pacto de acompanhá-lo na nossa vida, até o fim.