segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A CARIDADE COBRE A MULTIDÃO DE PECADOS

Estamos vivendo os últimos dias do ano 2010 e gostaríamos de iniciar 2011 realmente com o coração novo. Propomos uma experiência vivenciada por Ginetta - extraída do livro "Ginetta. Uma VIDA pelo IDEAL da UNIDADE" -, por ocasião da abertura do primeiro focolare na cidade de Milão, que nos dá uma pista para que isso aconteça.


Eu escrevia, sempre, tudo a Chiara e comunicava tudo ao nosso arcebispo (de Trento) e a padre Tommasi, que era o nosso assistente em Roma. Ele me disse: ‘... é preciso falar com o Cardeal Schuster, arcebispo de Milão’. (...)
Só pronunciar esse nome fazia todo mundo tremer! O cardeal Schuster era um dos mais importantes da Itália.
Tomeis o trem, mas naquele período, logo após a guerra, os trens confortáveis eram quase inexistentes, diria até que não existiam realmente. E, de fato, viajei naqueles trens em que se transportava gado. Portanto, um vagão onde não há lugar para sentar e, como tinham embarcado também os animais, não havia um bom odor, não se sabia onde por as mãos e era fácil perder o equilíbrio, pois não dava para se apoiar em nada. (...)
No dia seguinte, fui ao arcebispado. O secretário do cardeal perguntou-me o que eu queria. Disse-lhe que o meu arcebispo havia dito que eu teria que me encontrar com o cardeal Schuster. Perguntou-me:
- Qual é o assunto?
- É um assunto religioso.
- Bem, a senhorita não vai falar com o cardeal Schuster; vai falar com monsenhor Gornatti. (...)
Eu tomei tamanho susto que me esqueci que eu tinha um bilhete do nosso arcebispo. Mas fui.
Depois de vários corredores, um senhor me parou e perguntou:
- O que deseja, senhorita?
- Tenho aqui um bilhete do secretário do cardeal Schuster; devo falar com monsenhor Gornatti.
- Mas a senhorita sabe quem é monsenhor Gornatti?
- Sei apenas que devo falar com ele.
- Mas é um juiz!
Digo a verdade, por uma graça particular de Nossa Senhora, não caí... (...)
Tremia de medo e me perguntava: Mas, Ginetta, por que está tremendo de medo? Essa pessoa me dá medo, o juiz me dá medo. Mas escute, Chiara não nos ensinou a ver Jesus em todos? Então você tem medo de Jesus? Por que não vê Jesus nele?
(...) Entretanto, dizia a mim mesma: Por que ele me dirá não? Porque sou Ginetta; porque, se eu fosse Jesus, ele não teria coragem de dizer “não”. (...)
Mas surgiu outra dificuldade: Mas você, Ginetta, não é digna, é miséria, é pecado, é realmente a negação de tudo. Por isso você não é Jesus, eis a questão.
A essa altura todas, as pessoas já tinham entrado. O coração batia forte: Está chegando a minha hora, devo entrar. Mas o senhor que estava à minha esquerda, e era o último, me perguntou:
- Por favor, poderia me deixar passar à sua frente, porque tenho uma coisa importantíssima a fazer e não conseguirei se não entrar antes da senhorita.
Respondi:
- Sem dúvida! Com muita alegria!
Tendo feito isso, a paz voltou a reinar dentro de mim, porque me lembrei de que na Sagrada Escritura está escrito que a caridade cobre a multidão dos pecados. Naquele momento, fiz um ato de caridade ao irmão e acreditei que Deus podia purificar-me com aquele ato de caridade e preparar-me para me encontrar com aquele monsenhor.
Mais tarde ele saiu e eu entrei. O monsenhor me olhou e disse:
- Que paciência a senhorita teve!
Perguntou-me:
- Por que veio me procurar?
Contei ... (...). Ele ficou impressionadíssimo e me disse:
- Ma esse é um ótimo espírito, do qual têm urgente necessidade, não só os pequenos centros, mas também os grandes centros, como Milão! (...) A senhorita seguiu o caminho certo, pois o Evangelho diz: “Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, produz muito fruto” (Jo 15,5).

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O PROBLEMA SOCIAL NÃO SE RESOLVE COM UM PACOTE DE NATAL

Trecho extraído do livro “Ginetta. Uma VIDA pelo IDEAL da UNIDADE”.

Um dia, um amigo de Gino, irmão de Chiara (esse amigo e Gino eram ambos comunistas), foi até ela para contar-lhe como o comunismo estava se estendendo em toda a Itália e em todo o mundo. Pouco antes de ir embora, tomado pelo entusiasmo, disse:
- Eu estaria disposto a derramar logo todo o meu sangue, se soubesse que assim poderia contribuir para desenvolver e difundir ainda mais esse grande ideal pelo mundo; renunciei à carreira de médico e, neste momento, também a formar uma família.
Essas palavras tocaram profundamente Chiara, porque, entre outras coisas, ela sabia que aquele jovem, além de ter renunciado à carreira de médico e, no momento, a formar a sua própria família, pela doação excessiva aos companheiros pobres e operários comunistas, tinha perdido a saúde e ainda tinha sido preso e maltratado pelos soldados alemães, para não trair os seus amigos, que viviam com ele pelo mesmo ideal.
Quando ele saiu, Chiara nos disse:
- Quantas coisas ele fez por um ideal meramente humano! Realmente nos superou na generosidade!

As palavras dele soavam aos nossos ouvidos como uma tremenda reprovação. Nós, pelo Ideal dos ideais, Deus, que há tempos havíamos escolhido como o nosso único Tudo, não tínhamos feito tanto quanto ele. Ficamos emudecidas, mas não perdemos o ânimo.
(...)
Jesus, no Santo Evangelho tinha dito e nos dizia: “Daí, e vos será dado; uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, será derramada no vosso regaço” (Lc 6,38). É preciso dar para ter; para ter e poder doar novamente. Era um dever para todos nós dar o supérfluo e evitar que existisse quem não possuísse o necessário.
Não é justo, dizia, que entre nós exista quem circula com um casaco de pele e quem não tem o leite no café da manhã e a mistura no almoço.
(...) É vontade de Deus – para que se evitem esses enormes desequilíbrios – que se doe o supérfluo a quem não tem o mínimo indispensável para vier, e isso, constantemente, com consciência.
(...) O problema econômico social não se resolve com um pacote no Natal (...). Porque o ano é feito de trezentos e sessenta e cinco dias, e o físico reclama todos os dias os seus direitos. Na nossa pequena e grande família não deve existir nenhum necessitado, nenhuma diferença entre quem dá e quem recebe. Somos todos irmãos, todos filhos do mesmo Pai, o Pai que está nos Céus.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ANTES DE TUDO A CARIDADE

TRECHO DO LIVRO "Ginetta. Uma VIDA pelo IDEAL da UNIDADE", PG. 97

O cristão – aquele que crê ser cristão – deve fazer a vontade de Deus. Quem de nós pensava, antes, em fazer a vontade de Deus?! Mas Chiara disse que nós tínhamos mesmo de fazer a vontade de Deus. Por exemplo, quando alguém entra na escola para estudar ou entra no escritório, no Banco, e o horário é às oito horas, entra às oito, e não às oito e cinco!
E, falando de Comunhão Eucarística, para recebê-la temos de assistir à missa. E, à luz do Carisma da Unidade, também a missa veio em relevo de uma maneira extraordinária. Para nós, um dia sem missa era um dia perdido, um dia que não tinha significado, pois se tratava do momento mais importante do nosso dia. Se a missa era às sete horas, então era às sete horas! Às sete horas precisava entrar e ajoelhar-se.
Uma vez, estava em casa com uma outra focolarina e devíamos ir à missa. Precisava descer quatro andares. Eu, que estava olhando o relógio, achava que se nós não fôssemos mais rápidas, talvez corrêssemos o risco de entrar com um pouco de atraso na igreja.
E a minha amiga, que saiu por último, tinha de trancar a porta. Eu achava que ela estava indo devagar demais e eu não queria chegar atrasada à igreja por causa dela.
Assim, desci depressa todos os degraus até lá embaixo. E a consciência me dizia – era como se Jesus que, através da consciência, me dissesse: “Não me interessa nada a sua missa, não me interessa nada o seu desejo de fazer a vontade de Deus; a mim interessa a caridade para com a sua irmã e que você se apresente a mim junto com ela”. Porque o Evangelho diz: “Antes de tudo a caridade”, antes da missa, antes da comunhão, antes de rezar o terço, antes de adorar o Santíssimo Sacramento, antes de qualquer ação mais nobre. Não vale nada! Uma só coisa é necessária: o amor. Então, parei, voltei, fui procurar a minha amiga, depois desci a escada, mas com a alma serena, tranqüila, com a paz, a paz.