segunda-feira, 30 de agosto de 2010

UM FATO RARÍSSIMO, FASCINANTE

TRECHO DO LIVRO "GINETTA. UMA VIDA PELO IDEAL DA UNIDADE"

1944. O meu ideal é essa grande Luz

Depois de não sei se quinze dias, numa tarde de domingo, durante a novena da Imaculada, a mesma irmã me disse:
– Eu fui a uma casa onde havia um grupo de jovens; essas jovens, a um certo momento, entraram num quarto, abriram as portas de um armário, as gavetas de outro móvel e começaram a tirar o que estava ali: este capote é demais, esta saia é demais, este casaco também, esta blusa... E colocavam essas roupas uma em cima da outra, no chão no meio do quarto.
Entre elas havia outra jovem com uma lista de endereços, marcando os nomes das pessoas às quais iriam dar aquelas roupas.
Este fato revolucionou toda a minha vida. Disse à minha irmã:
– Mas que estupendo é aquilo que você me contou! Eu acho que é maravilhoso, é extraordinário! É um fato raríssimo, é fascinante! Gostaria de conhecer o sacerdote que dirige espiritualmente essas pessoas. Isso se estenderá ao mundo inteiro, porque é fato e não tagarelice!
O que aconteceu dentro de mim? Todos aqueles ideais que eu tinha – a arte, a música, a filosofia, a montanha – eu os vi desaparecerem todos como chama de vela ante o despontar do Sol. E uma grande luz invadiu a minha alma, tomou posse do meu ser, e vi que aquela luz era Deus! Naquele instante disse a mim mesma: “Não, o meu ideal não é a música, não é a filosofia, não é a montanha. O meu ideal é essa grande luz, o meu ideal é Deus. Eu quero escolhê-lo como o tudo da minha vida”.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O SONHO SE TORNA REALIDADE

Trecho extraído do livro "Partono i Bastimenti", de Matilde Cocchiaro, Editora Città Nuova, 2009

O tempo passa e Ginetta ainda não pode fazer parte definitivamente do focolare por causa do não categórico da mãe. Apesar de tudo, não se rende e procura alcançar o seu objetivo. Tem idéia, então, de falar com o confessor e o faz com tal fervor que, por fim, ele decide ir pessoalmente convencer a mãe. Diante do pedido de permissão para as duas irmãs (Ginetta e Gis, ndt), a mãe toma um susto tão grande que decide dar a permissão ao menos para a mais velha (Ginetta, ndt).
Creio que estava no auge da felicidade – ela conta – quando corri até Chiara para comunicar-lhe a notícia. Imediatamente ela me confiou a tarefa de dar início a um novo focolare na localidade “Goccia d’oro”, na casa dos seus pais.
Ginetta, sempre pronta a obedecer, imediatamente carrega sobre um carrinho o seu dote: a cama, o guarda-roupa, uma mesa e uma cadeira, e empurra tudo isso até o outro lado da cidade, ajuda por um menino que, como ela, não se envergonha dos olhares divertidos dos transeuntes. Com aqueles poucos móveis decora os dois ambientes à disposição. (...) No momento está só, mas logo chegam Graziella De Luca, Natalia Dallapiccola e Vale Ronchetti, três dentre as primeiras companheiras de Chiara. (...)
No entanto, Ginetta não fica muito tempo nessa casa: logo lhe chega a solicitação de transferir-se para a Praça dos Capuchinhos, com Chiara.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ENTREVISTA COM GINETTA CALLIARI - REVISTA CIDADE NOVA, AGOSTO 1997 - 1ª parte

Cidade Nova: Qual era seu projeto de vida, e o que mudou após o encontro com Chiara Lubich?

Ginetta Calliari:
Nasci numa família católica e minha mãe nos deu uma formação cristã. Muitas vezes, quando eu era criança, saía de casa sem dizer nada a ninguém e ia à igreja. Ficava lá, com Jesus Eucaristia, a quem chamava de Deus vivo. Mas havia um grande contraste, por exemplo, entre essa minha exigência e o meu comportamento em casa. Eu não ajudava em nada e, por ter uma personalidade muito forte, todos deviam ceder às minhas vontades.
Tinha muitos ideais. Era apaixonada pela arte, pela música, por tudo o que fosse expressão de beleza. Era sedenta de verdade e amava as “minhas” montanhas! Para mim o homem valia pelo que sabia, pelos seus conhecimentos. Dedicava todo o meu tempo livre ao estudo e à leitura.
Quando conheci Chiara, aconteceu uma revolução em mim. Todos esses meus ideais desapareceram como chama de vela diante do sol. Uma grande luz invadiu a minha alma, tomou posse do meu ser. Entendi que aquela luz era Deus. Compreendi profundamente que o meu ideal na era mais a arte, a música, a filosofia, as montanhas... O meu ideal era Deus. E o escolhi como “o tudo” da minha vida. Começou, para mim, uma aventura maravilhosa!
Naquele momento, dei-me conta de que o meu amor por Deus, até então, tinha sido puro sentimentalismo. Descobri que a medida desse amor deveria ser a medida do meu amor para com o próximo. Comecei a amar minha mãe, a ajudá-la a lavar a louça, a varrer a casa, comecei a ajudar as minhas irmãs... Não existia mais o simpático e o antipático, o mais inteligente e o menos inteligente, o saudável e o doente: Jesus estava presente em todos. Ao ler o Evangelho, entendi que é necessário amar os inimigos, fazer o bem a quem nos faz o mal... Entendi que eu poderia chegar a Deus através do irmão.

Cidade Nova: Após alguns anos com Chiara, você veio ao Brasil. Como isso aconteceu?
Ginetta Calliari: Em 1958, duas focolarinas e um focolarino vieram para a América Latina com uma missão: escolher o lugar mais adequado para dar início ao Movimento. Visitaram Recife, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires. Analisando objetivamente, o lugar menos indicado era Recife: um clima quente demais para europeus. Porém, na viagem de volta, problemas técnicos levaram o avião a fazer um pouso de emergência nessa cidade, onde ficaram alguns dias.
Foi a oportunidade para um verdadeiro encontro! Nele, um pequeno grupo de pessoa decidiu ir à Itália com o objetivo de conhecer melhor o Movimento. Não eram ricos, não tinham dinheiro, mas fizeram uma grande comunhão de bens e conseguira viajar! Eram todos de Recife... Isso foi o sinal de que aquela era a cidade mais adequada para tornar-s o berço do Movimento no Brasil e em toda a América Latina.
Pouco tempo depois, Chiara me chamou e me comunicou que eu deveria vir para cá. Não se tratava de uma viagem breve, tratava-se de abrir dois centros do Movimento no novo continente; um masculino e um feminino.
Numa conversa pessoal com Chiara, ela me entregou um crucifixo. Não um crucifixo de madeira, como os dos missionários que partem em missão, mas um crucifixo vivo, Jesus crucificado e abandonado que grita: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
Vim para o Brasil com a missão de apresentar Jesus crucificado e abandonado ao povo brasileiro. Vim para dar testemunho de que aquele Deus que muitos pensam poder encontrar somente na outra vida está aqui, presente entre nós, dentro de nós, ao nosso lado: podemos falar com ele sempre!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

QUE DIREÇÃO DAR À PRÓPRIA VIDA?

Trecho extraído do livro "Partono i Bastimenti", de Matilde Cocchiaro, Editora Città Nuova, 2009


Ginetta, ainda muito jovem, começa a refletir sobre sua vida futura. O casamento lhe agrada, mas ao mesmo tempo sente-se atraída por uma existência entregue totalmente a Deus. Quando ainda era uma pré-adolescente, no dia da festa de São Luiz escuta falar dele como o "santo da virgindade". Escreve: Uma frase ficou impressa em mim: os virgens, quando entrarão no Paraíso, seguirão o Cordeiro por toda parte. Com a fantasia de uma jovem, imagina-se passeando no Reino dos Céus com muitos outros virgens. Mas aquilo que mais me atraia era que esses virgens cantavam "um hino", uma canção maravilhosa, conhecida só por eles. Essa idéia exerce um fascínio especial em Ginetta que, desde pequena, demonstra uma sensibilidade acentuada para a arte e para a música. Dias depois, escutando a mãe que fala com uma amiga sobre o futuro das filhas, ela intervém com seriedade e convicção: Mamãe,eu não me casarei.
Naquele período, a morte do pai marca a sua vida de uma maneira muito forte. Não consegue se conformar. Volta à sua mente a generosidade, o bom exemplo: os ensinamentos dele estão diante dela como pontos luminosos e empurrões que a impulsionam a fazer o mesmo. Estava sempre pronto a ajudar os outros, inclusive economicamente, sem se preocupar com os próprios interesses. Uma vez, para salvar um parente da falência, não hesita em tirar do próprio bolso. AS filha, no entanto, nunca o tinham escutado reclamar.
A lembrança do dia em que o pai teve de ser hospitalizado é vivo no coração de Ginetta. (...) As filhas, dando turno com a mãe, vão sempre visitá-lo. Que choque para todas quando, um dia, chegando no hospital, recebem bruscamente a notícia pelos médicos: "O papai havia falecido repentinamente". Pensar – escreve Ginetta – que naquele último momento ele estava sozinho, pra mim foi uma dor ainda maior.
Esse sofrimento tão duro faz com que ela sinta de passar de maneira brusca e violenta da despreocupação da infância para a maturidade.
Profundamente provada, a família se une de maneira muito mais forte, procurando ajudar-se. Eram tempos muito difíceis, mas a mamãe, trabalhadora como era, nunca nos deixou faltar nada. Com a sua ajuda, Ginetta pôde continuar os estudos e receber o diploma de professora primária.
Ela está na idade das primeiras e importantes escolhas: Eu me lembrei daquelas palavras que havia escutado de criança: "Seguirão o Cordeiro... cantarão um hino, por toda a eternidade". E como um imperativo: Não, eu não me casarei! Gostaria de realizar esse sonho fascinante: "Segui-Lo na terra e por toda a eternidade".
Logo começa a procurar trabalho indo bater, sem se envergonhar, em muitas portas. Em pouco tempo consegue um lugar como professora na escola materna de Villamontagna, na periferia de Trento e, durante as férias, um trabalho como inspetora numa colônia do Estado. Ginetta percebe a presença de Deus nos acontecimentos cotidianos e o amor de um Pai que cuida dela. Inclusive o vazio deixado pelo pai é preenchido, e experimenta paz e segurança.
Nunca me senti órfã – escreve – porque descobri que sou filha de um Pai que em todas as ocasiões me revelava a Sua presença protetora. Até mesmo a vaga de trabalho como professora primária lhe parece um presente Dele e se empenha com entusiasmo, sem medir sacrifícios. Levanta-se bem cedo e percorre à pé os quilômetros que a levam até Villamontagna, passando por Cognola e Tavernaro. Na bolsa, leva o lanche e o almoço, pois volta para casa somente no fim da tarde. Ela gosta muito dessas caminhadas; no silêncio, em contato com a natureza, pode se recolher e rezar, encontrando um relacionamento sempre novo com Deus e com Maria. São momentos preciosos que lhe dão a possibilidade de saborear uma felicidade tão grande que a faz se sentir “dona do mundo”. (...)
Para ela, é um período de profundas reflexões. Mais madura, o questionamento sobre o próprio futuro apresenta-se seriamente. O matrimônio já estava descartado no seu coração. Mas não sente a vocação para as outras estradas (convento, etc.). Para Ginetta é um drama, pois não encontra nada condizente com o que sente. (...) Nem imaginava que Ele teria encontrado para mim uma estrada tão nova!
(...) Encontra outro trabalho como professora, com um salário melhor, numa escola infantil em San Michele all’Adige, distante de Trento. Devido à distância, passa a semana em San Michele, num quarto alugado. É a primeira vez que fica fora de casa, mas não tem dificuldade de inserir-se no novo ambiente. Ali também havia uma igreja, e um sacrário – escreve –; na bolsa tenho o crucifixo de ferro: meu companheiro inseparável... para mim, ter Deus era ter tudo!